Brasil lança na Rio+20 fórum nacional para discutir surf e sustentabilidade
O fórum é composto por representantes de sete estados do litoral brasileiro
A Rio + 20 mobilizou o mundo para debater os rumos do desenvolvimento global. Na Cúpula dos Povos, a sociedade civil internacional atuou para construir uma agenda comum, pautada por um diagnóstico geral e convergente: o modelo capitalista é a causa estrutural das desigualdades sociais e da injustiça ambiental. O que torna imperativo o posicionamento coerente e a busca responsável por soluções reais à crise do modelo capitalista de produção e consumo, assim como a afirmação de novos paradigmas para que seja possível conceber uma visão sustentável de sociedade.
O surfe, enquanto esporte e cultura, vive um paradoxo. É uma cultura que promove integração entre homem e a natureza de forma direta. Um esporte com alto potencial de inclusão social e de formação de cidadania ambiental voltada à proteção dos oceanos e das zonas costeiras. É uma comunidade capilarizada por todo litoral, capaz de fortalecer políticas públicas e enfrentamentos a impactos que ameacem a qualidade de vida e os direitos humanos. Ao mesmo tempo é uma indústria com baixo compromisso socioambiental, que no processo de afirmação da comunidade surfe, tem convivido com o risco constante de modelar a cultura surfe dentro dos padrões da indústria cultural e reduzir sua riqueza a parâmetros mercadológicos.
Durante o ano de 2012 surfistas de sete estados da costa brasileira: Pará, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, se envolveram e participaram ativamente do processo de mobilização “Surfando na Rio + 20”. Este processo visou organizar contribuições de surfistas brasileiros para orientar a institucionalização do Fórum Brasileiro de Surfe e Sustentabilidade.
O processo de criação do fórum envolveu mais de 600 participantes e foi conduzido numa grande articulação em rede com objetivo de gerar conhecimentos e troca de informações, para orientar formas de enfrentar os conflitos e injustiças sociais vivenciadas atualmente pela comunidade do surfe.
O lançamento do Fórum Brasileiro de Surf e Sustentabilidade aconteceu no último dia 20 de junho no Pavilhão Azul da Cúpula dos Povos, com uma cerimônia de mistura das areias trazidas de praias de todo Brasil, que reuniu cerca de 200 pessoas. A celebração serviu para ligar os diferentes litorais num mesmo ambiente, mostrando que os surfistas podem se unir por praias e zonas costeiras conservadas.
O Pavilhão Azul teve um dia totalmente dedicado a temática oceanos e também abrigou a exposição fotográfica “Água, rios e povos” e aglutinou um conjunto de ações autogestiodas relacionadas à temática hídrica, dentre conferências cidadãs, diálogos, debates, ações pedagógicas, culturais e lançamentos de filmes.
Surf com princípios sustentáveis
O conceito de responsabilidade nasce a partir da experiência de indivíduos ou grupos que detenham o conhecimento sobre a importância de assumir posturas éticas e morais sobre o cuidado com os bens comuns materiais e imateriais. Ao olhar para o litoral brasileiro fica fácil identificar conflitos e empreendimentos impactantes das mais variadas formas. Especulação imobiliária, portos, estaleiros e plataformas de petróleo são apenas algumas das atividades desenvolvimentistas que estão deixando essa região um local recheados de desigualdades.
Num esforço coletivo o Fórum Brasileiro de Surf e Sustentabilidade teve como seu primeiro produto oficial a criação do documento chamado “Surf XXI”, que é uma carta de intenções que traz vinte e uma responsabilidades assumidas pelos surfistas participantes desse processo nacional.
A carta foi apresentada no lançamento do fórum e teve seu texto elaborado a partir de atividades locais promovidas pelos Encontros Livres - Surfando na Rio+20 nos últimos seis meses. A organização final da redação aprovada teve quatro eixos de reflexão: juventude, surf e educação ambiental, surf e gestão costeira, cultura surf, prancha e consumo, além de protagonismo dos surfistas.
Todos os temas contemplados possibilitaram apontar vinte e uma responsabilidades assumidas, que podem orientar a postura dos surfistas para o cuidado com os ambientes naturais em que o surf é praticado. Entre as principais propostas estão:
- Os surfistas devem atuar em prol de ações de educação socioambiental para a comunidade do surf, incentivando e valorizando a atuação da juventude na conservação dos ambientes costeiros e marinhos, bem como, o aprendizado intergeracional;
- Investir, valorizar e fomentar as soluções e inovações tecnológicas que minimizem o impacto ambiental e social gerados por toda a cadeia produtiva do esporte, bem como a regularização da profissão Fabricante de prancha;
- Propor a implantação de Reservas Mundiais e Reservas Nacionais de Surf, que garantam a perenidade de boas ondas e um litoral protegido e conservado no Brasil;
A integra da carta com todos os princípios traduzidos para o inglês e espanhol deve ser apresentada a partir do mês de agosto por meio de uma publicação digital E-Book, no portal do Fórum no endereço: http://www.surfsustentavel.org.br/
Confederação Brasileira de Surfe na Rio+20
Representando a Confederação Brasileira de Surf (CBS) a Federação de Surf do Estado do Rio de Janeiro (FESERJ), através do seu presidente Abílio Fernandes, participou do lançamento do fórum realizando uma apresentação sobre a ação dos surfistas como agentes socioambientais.
Na oportunidade o público pode conhecer o projeto de Recuperação das Restingas do Litoral Carioca, que desde 1999 é realizado pela entidade, o qual vem transformando a orla do Rio de Janeiro num grande viveiro com espécies nativas de restinga.
Com atuação socioambiental, cultural, educativa e ampliando a qualidade do ambiente costeiro por meio do plantio de canteiros de vegetação de restinga, o projeto integra ações de educação ambiental nas areias das praias da cidade como: Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Grumari e Prainha.
Surf e sustentabilidade num processo nacional
A rede de surfistas que originou o fórum foi lançada em 2009 na cidade de Ubatuba/SP, como um movimento denominado “Surf Sustentável”. A proposta inicial foi gerar a cooperação e troca de informações sobre temas referentes à sustentabilidade no universo surf.
A idéia se expandiu e ampliou o seu alcance, tornando-se um verdadeiro esforço multilateral para discutir surf, conceitos e iniciativas pró-sustentabilidade no esporte e se organiza por meio de um comitê nacional, combinado por representantes de diversas regiões da costa atlântica.
Todo processo fortalece duas missões importantes: Contribuir para inserir os surfistas nos vários debates sobre desenvolvimento sustentável e subsidiar meios para encorajar ações voltadas à educação ambiental na comunidade do surf.
FOTOS: Guaíra Maia